É no mês de maio que a exuberância da Ilha Grande atinge o auge. O fluxo de pessoas diminui, as temperaturas são amenas, as águas ficam mais claras, os raios do sol se integram ao mar criando um efeito quase cinematográfico.
Era um dia desses, cheio de paz. Era para ser um dia comum. Cada um envolto em seus cotidianos.
Mas foi nesse dia, ao final dele, que seu Taru partiu.
Após horas tranquilas, costumeiras, passadas à horta, ao galinheiro, ao almoço preparado pelo filho, à sesta, à sala cheia de retratos e recordações, ele se dirige ao banho. E ali, após a renovação e limpeza da água, Tarumasa Tonaki deixa esse mundo de forma suave e serena.
Paz e mansidão – essas foram as vibrações que pairavam sobre a sua casa quando para lá acorremos. Foi-se como um passarinho, delicadamente.
Não mais o veremos “cultivando a horta, colocando o covo, secando a lula, defumando o peixe”. A ausência desses gestos tão ricos de significado e valor nos torna mais pobres e vazios.
Porém, sua vida e sua morte abundam ensinamentos. Se assim o quisermos, poderemos ser seus herdeiros.
* Seu Tarumasa Tonaki desencarnou no dia 15 de maio de 2018, aos 93 anos.
]]>Filme “No tempo do Dashico” conta história da comunidade japonesa na Ilha Grande
As histórias da comunidade japonesa na Ilha Grande, que unem as cidades de Angra dos Reis e Santos, no litoral paulista, foram relembradas no último dia 15 de dezembro, durante a apresentação do projeto “No Tempo do Dashico” para a população santista. O filme homônimo e a exposição “Diálogo entre os Tempos” fez parte da programação do Marcafé, promovido pelo Instituto Maramar. O evento aconteceu no Clube Estrela de Ouro, um dos espaços mais tradicionais da cidade, também ligado à história dos imigrantes japoneses radicados no município. Na década de 40, parte dos imigrantes japoneses que chegaram à Ilha Grande, em Angra, eram oriundos de Santos.
A programação da noite começou com uma roda de conversa em que a coordenadora do projeto, Amanda Hadama, narrou parte da trajetória das famílias japonesas na Ilha Grande e a relação desses grupos com a pesca da sardinha que, por muitos anos, foi a mais importante do Estado do Rio de Janeiro.
– Apresentar o filme em Santos é de grande significado para nós. Afinal, foi nesse porto, que grande parte dos imigrantes desembarcaram pela primeira vez vindos do Japão. Seu Tarumassa Tonaki, uma das figuras de destaque do filme, é nascido aqui. Além disso, sempre houve um grande intercâmbio entre os pescadores de Santos e de Angra dos Reis. Muitas embarcações santistas forneciam pescado as fábricas da Ilha Grande – conta Hadama.
Entre o público do evento estavam famílias japonesas da baixada santista que, na época, se dedicavam ao beneficiamento de pescado em Angra dos Reis, e pescadores que desembarcavam sardinha nas extintas indústrias de beneficiamento da Ilha Grande. A segunda roda de conversa, inclusive, contou com a participação de um desses pescadores, o senhor Altamiro Domingos dos Santos, proeiro de traineira de sardinha e mestre de pesca. O debate ainda contou com a colaboração do oceanógrafo do Instituto Maramar, Fabrício Gandini, o do presidente do Sindicato dos Pescadores do Estado de São Paulo, Jorge Machado. O trio refletiu sobre o manejo da sardinha e as consequências futuras da captura desordenada.
– O Marcafé Dashico foi um momento de encontro entre Santos e a Ilha Grande, por meio da história dos imigrantes japoneses, da pesca e do mar. Foi uma ótima forma de finalizar as atividades do Instituto Maramar em 2016 – reflete Fabrício Gandini.
Após a exibição do filme documentário “No Tempo do Dashico”, dirigidos por Coraci Ruiz e Júlio Matos, o Marcafé abriu espaço para a boa música e a degustação de caldos especialmente preparados com o dashico da Ilha Grande.
– O missoshiro e o somem foram cozidos pelas mãos da senhora Isabel Oshima de 85 anos, frequentadora do Clube Estrela de Ouro há mais de trinta anos – conta Michele Uemura, do Clube.
Sobre o projeto ‘No Tempo do Dashico’
O projeto “No Tempo do Dashico” é uma realização do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) e da Prefeitura de Angra dos Reis, por meio da Secretaria de Pesca e Aquicultura. O filme documentário e a exposição fotográfica (que acompanha as exibições) tratam da história dos imigrantes nipônicos na Ilha Grande ao longo do século XX, tendo como fio narrativo uma prática artesanal de secagem e defumação de peixe – o dashico. Mais informações: www.dashico.art.br
O filme e o livro serão distribuídos a associações culturais de Santos, por meio do Instituto Maramar. A exposição “Diálogo entre os Tempos” ficará aberta ao público até 15 de janeiro de 2017. Em seguida, o projeto segue para a capital paulista, ainda no primeiro trimestre do ano que vem.
Serviço:
Diálogo entre os Tempos
Exposição Fotográfica
Local: Clube Estrela de Ouro,
Av. Alm. Saldanha da Gama, 163, Ponta da Praia, Santos, SP
Mais informações: (13) 2202 8505 (Instituto Maramar)
]]>“No Tempo do Dashico”, filme documentário dirigido por Coraci Ruiz e Júlio Matos, recebeu Menção Honrosa no Festival Internacional do Filme Etnográfico de Recife. O evento ocorreu na capital pernambucana entre os dias 13 e 16 de setembro de 2016. A premiação foi anunciada nessa última sexta-feira, dia 16.
O Festival Internacional do Filme Etnográfico do Recife tem por objetivo exibir e premiar produções que abordam, através do olhar etnográfico, a cultura do outro – seus saberes, artes, comportamentos que apresentem qualidade técnica reconhecida na área. O Festival conta com mostras competitiva e paralelas (não competitivas), além de oficinas promovidas pelo LAV (Laboratório de Antropologia Visual da UFPE), e acontece desde o ano de 2008. O evento é promovido e realizado pelo Laboratório de Antropologia Visual do programa de Pós-Graduação em Antropologia da Universidade Federal de Pernambuco.
O juri classificou a obra como “um filme delicado, sensível, poético e singelo sobre a memória da população de origem japonesa no litoral.”
Parabéns a equipe!
]]>Quem assistiu ao filme “No Tempo do Dashico”, teve a oportunidade de conhecer Seu Tarumasa Tonaki. Filho de japoneses, desde da década de 1950, ele reside na Praia de Matariz, Ilha Grande. Trabalhou na salga da sardinha e também na produção do dashico. Ele foi um dos guias em nossa viagem pelo tempo, rememorando passagens da trajetória de sua família e nos explicando o passo a passo da produção do dashico.
Nesse último sábado, dia 13, seus filhos, netos, bisnetos e amigos se reuniram para celebrar os seus 92 anos. Como uma forma de retribuir a participação de Seu Taru no projeto, a produção resolveu promover uma sessão do filme em sua casa, junto com toda sua família. A maioria dos presentes assistia ao documentário pela primeira vez, inclusive o próprio homenageado.
“Obrigada por nos legar um registro tão importante e tão bonito da nossa história”, declarou Teruco Tonaki, uma das filhas.
Após a exibição, muitas histórias foram contadas sobre os anos passados, o trabalho nas fábricas de sardinha, a comercialização do dashico nos mercados de São Paulo.
Quanto aos realizadores, estes saíram da sessão comovidos e sensibilizados pela receptividade e pelo significado do projeto para aquelas pessoas de diferentes gerações.
]]>Na última quinta-feira, dia 7, foi lançado o documentário “No Tempo do Dashicô”, no Teatro Municipal de Angra dos Reis. O filme conta a história dos imigrantes japoneses na Baía da Ilha Grande. O fio narrativo gira em torno do dashicô, um peixe seco e defumado utilizado para compor caldos e sopas na culinária nipônica. Na Ilha Grande, o produto era preparado por esse grupo, que comercializava para os conterrâneos residentes no estado de São Paulo. A partir dos relatos do senhor Tarumasa Tonaki, de 90 anos, e da senhora Tsuruco Nakamura, de 74, o filme mostra não só os segredos da preparação dessa especiaria, mas os significados da trajetória de vida e trabalho dos imigrantes.
A iniciativa foi viabilizada a partir de um convênio entre a Prefeitura de Angra dos Reis, por meio da Secretaria de Pesca e Aquicultura, e o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
O filme foi dirigido por Coraci Ruiz e Júlio Matos, do Laboratório Cisco. O argumento e pesquisa ficaram a cargo de um membro da comunidade japonesa local, Amanda Hadama, que coordenou o projeto. O esforço de pesquisa também resultou em uma exposição fotográfica intitulada “Diálogo entre os Tempos”. Foram recuperadas imagens do período conhecido como “ciclo da sardinha”, entre as décadas de 1950 e 1990, quando aproximadamente 25 indústrias de beneficiamento de sardinha funcionaram na Ilha Grande. Desse montante, 20 eram de propriedade dos descendentes nipônicos.
A noite de lançamento ainda contou com o concerto musical “Canções do Sol Nascente”. Os músicos Camilo Carrara, Tamie Kitahara e Shen Ribeiro apresentaram um repertório de músicas nipônicas tradicionais, interpretadas em instrumentos originais, como o shamisen (cordas), koto (cítara) e o shakuhachi (flauta).
A comunidade japonesa compareceu em grande número. Representantes de cada família receberam da prefeita Conceição Rabha, do secretário de Pesca, Júlio Magno; da superintendente do Iphan no Rio de Janeiro, Mônica Costa; e da coordenadora de Salvaguarda do Departamento de Patrimônio Imaterial do Iphan, Natália Brayner; exemplares do livro e do filme “No Tempo do Dashicô”.
— Hoje, consolidamos o registro de uma importante parte da história do município. Um dos grandes méritos desse trabalho é sua capacidade de estabelecer um diálogo entre as temporalidades, pois, além de trazer a memória passada, reflete sobre ela e sobre caminhos futuros — afirmou a prefeita Conceição Rabha. Júlio Magno, secretário de Pesca e Aquicultura, reforçou: – A comunidade japonesa sempre esteve próxima as atividades relacionadas ao mar. Sua história se aproxima da pesca em várias circunstâncias. O registro dessa memória é um presente para o setor pesqueiro.
A exposição “Diálogo entre os Tempos” permanece no Centro Cultural Theophilo Massad até 28 de agosto. Novas exibições do filme “No Tempo do Dashicô” acontecerão durante o Agosto Cultural. Em seguida, o projeto segue para outras cidades, compondo a programação em centros culturais e festivais de cinema. Ao mesmo tempo, o filme circulará pelas escolas da região, integrando atividades de educação patrimonial.
Para a coordenadora do projeto, Amanda Hadama, o lançamento do filme e da exposição é a materialização de um trabalho cuidadosamente executado ao longo de alguns anos.
— A Ilha Grande passa por um período crucial, em que modelos de gestão estão sendo discutidos. Nesse contexto, pensar sobre a história e a memória daquele território é de importância estratégica para traçar caminhos que valorizem a identidade e as pessoas que ali vivem — conclui Amanda Hadama.
A Prefeitura de Angra dos Reis, por meio da Secretaria Municipal de Pesca, e o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) promoveram nos dias 19 e 20 de junho, o seminário “Aprenda a Produzir e Comercializar o Dashico e outros produtos alimentícios artesanais”, na Praia de Matariz, na Ilha Grande. O evento é parte de um projeto da secretaria de Pesca para, entre outras ações, fazer o registro histórico do ciclo da sardinha em Angra dos Reis, abordando o protagonismo da comunidade japonesa da Ilha Grande nessa atividade.
O dashico era produzido na Ilha Grande no século XX pelos japoneses. A sardinha era seca e defumada para ser utilizado como tempero, sobretudo para caldos e sopas. O seminário contou com uma oficina da senhora Tsuruco Nakamura que fez, junto com os participantes, a defumação do peixe seguindo costumes tradicionais.
As outras palestras tiveram a participação dos professores Ítalo Casemiro, Soraya de Almeida e Rodrigo Cotrim que abordaram temas como a modelagem e formalização de pequenos negócios, regras sanitárias e marketing aplicado a gastronomia.
— Quisemos aproveitar o seminário do dashico para trazer conhecimentos que podem ser aplicados a todos aqueles que trabalham com produtos alimentícios artesanais como a farinha de mandioca e outras especiarias que só a Ilha Grande tem. As palestras foram de excelente qualidade — comemorou Júlio Magno Ramos, secretário municipal de Pesca e Aquicultura.
Uma das coordenadoras do projeto, que teve parte do financiamento garantido pelo Governo Federal, disse acreditar que o resgate dessa cultura tradicional é importante para a valorização da Ilha Grande. Ela lembra que no dia 7 de julho, haverá a exibição do filme “No Tempo do Dashico”, às 19h, no Centro Cultural Teophilo Massad, no Centro de Angra.
— Estou bastante animada com o interesse que diferentes pessoas vem demostrando em relação ao dashico. Afinal, esse é o objetivo do projeto, contar a história desse produto artesanal e da comunidade que o fabricava. No dia 7, teremos a oportunidade de contar um pouco mais sobre isso. Estão todos convidados — explicou Amanda Hadama.
O Seminário na Praia de Matariz contou ainda com o apoio do Projeto Voz Nativa, da Escola Municipal Brasil dos Reis e de empresas locais como a Pousada Nautilus e a Pousada Recanto dos Limas.
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