Na última quinta-feira, dia 7, foi lançado o documentário “No Tempo do Dashicô”, no Teatro Municipal de Angra dos Reis. O filme conta a história dos imigrantes japoneses na Baía da Ilha Grande. O fio narrativo gira em torno do dashicô, um peixe seco e defumado utilizado para compor caldos e sopas na culinária nipônica. Na Ilha Grande, o produto era preparado por esse grupo, que comercializava para os conterrâneos residentes no estado de São Paulo. A partir dos relatos do senhor Tarumasa Tonaki, de 90 anos, e da senhora Tsuruco Nakamura, de 74, o filme mostra não só os segredos da preparação dessa especiaria, mas os significados da trajetória de vida e trabalho dos imigrantes.
A iniciativa foi viabilizada a partir de um convênio entre a Prefeitura de Angra dos Reis, por meio da Secretaria de Pesca e Aquicultura, e o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
O filme foi dirigido por Coraci Ruiz e Júlio Matos, do Laboratório Cisco. O argumento e pesquisa ficaram a cargo de um membro da comunidade japonesa local, Amanda Hadama, que coordenou o projeto. O esforço de pesquisa também resultou em uma exposição fotográfica intitulada “Diálogo entre os Tempos”. Foram recuperadas imagens do período conhecido como “ciclo da sardinha”, entre as décadas de 1950 e 1990, quando aproximadamente 25 indústrias de beneficiamento de sardinha funcionaram na Ilha Grande. Desse montante, 20 eram de propriedade dos descendentes nipônicos.
A noite de lançamento ainda contou com o concerto musical “Canções do Sol Nascente”. Os músicos Camilo Carrara, Tamie Kitahara e Shen Ribeiro apresentaram um repertório de músicas nipônicas tradicionais, interpretadas em instrumentos originais, como o shamisen (cordas), koto (cítara) e o shakuhachi (flauta).
A comunidade japonesa compareceu em grande número. Representantes de cada família receberam da prefeita Conceição Rabha, do secretário de Pesca, Júlio Magno; da superintendente do Iphan no Rio de Janeiro, Mônica Costa; e da coordenadora de Salvaguarda do Departamento de Patrimônio Imaterial do Iphan, Natália Brayner; exemplares do livro e do filme “No Tempo do Dashicô”.
— Hoje, consolidamos o registro de uma importante parte da história do município. Um dos grandes méritos desse trabalho é sua capacidade de estabelecer um diálogo entre as temporalidades, pois, além de trazer a memória passada, reflete sobre ela e sobre caminhos futuros — afirmou a prefeita Conceição Rabha. Júlio Magno, secretário de Pesca e Aquicultura, reforçou: – A comunidade japonesa sempre esteve próxima as atividades relacionadas ao mar. Sua história se aproxima da pesca em várias circunstâncias. O registro dessa memória é um presente para o setor pesqueiro.
A exposição “Diálogo entre os Tempos” permanece no Centro Cultural Theophilo Massad até 28 de agosto. Novas exibições do filme “No Tempo do Dashicô” acontecerão durante o Agosto Cultural. Em seguida, o projeto segue para outras cidades, compondo a programação em centros culturais e festivais de cinema. Ao mesmo tempo, o filme circulará pelas escolas da região, integrando atividades de educação patrimonial.
Para a coordenadora do projeto, Amanda Hadama, o lançamento do filme e da exposição é a materialização de um trabalho cuidadosamente executado ao longo de alguns anos.
— A Ilha Grande passa por um período crucial, em que modelos de gestão estão sendo discutidos. Nesse contexto, pensar sobre a história e a memória daquele território é de importância estratégica para traçar caminhos que valorizem a identidade e as pessoas que ali vivem — conclui Amanda Hadama.